(carta escrita e entregue para Justo D’ Ávila, meu amor, antes da viagem para Curitiba para passar o Natal)
não se preocupe. não vou esquecer do nosso amor; e sim, lembrar dele à cada movimento; momento
na grama verde e bem cortada do Parque Barigui,
no frio asséptico e triste do Shopping Cristal,
na cantoria regada à galeto e polenta em Santa Felicidade
e até na bebedeira inocente no Alto da XV
te cantarei um poema
e vou olhar a lua e uivar para você
que ouvirá meu grito
e uivará de volta
aonde quer que eu esteja, meu amor,
vou lembrar do nosso “vai-e-vem”
e suspirar baixinho sentindo seu cheiro, seu gosto, seu beijo
– nosso desejo –
vou fechar os olhos e mergulhar no seu azul, seu mar, meu par
sem você, sem norte, sem bússulo, sem leste, oeste, sem cor, sem tom, nuances, certezas…
longe; contigo sempre!
contigo sobre a cama (a nossa)
ou na beirada do sofá
brindarei o nosso amor
como se no copo
houvesse apenas o derradeiro gole
o gole da morte
e da vida que habita meu pobre, frágil e sensível coração
desde o dia em que nos conhecemos na circinstância mais esdrúxula e linda do mundo
quando não consegui mais tirar você do pensamento
quando fui invadida,
ou melhor,
atropelada pelo turbilhão de emoções- você
e perdi a paz
e fiquei em paz no mesmo segundo
eu desejo que de mãos dadas vivamos a vida
e sejamos a cada minuto surpreendidos um pelo outro
como num susto, um respirar mais brusco, uma mordida, um beliscão
desejo que em você, meu menino;
meu homem, meu grito;
minha força
nunca se apague a fagulha inicial e tudo que a cerca
– como as minhas portas –
todas abertas desde o primeiro:
– oi! tá podendo beber aqui?
esse mesmo “oi” que hoje fala: “cueca”, “Urca” e “pracinha”
esse “oi” que me olha, me molha e mexe o nariz (para baixo e dentro)
como se tivesse medo
um medo bobo, porém honesto de me perder
– de se perder –
como se fosse um pedido
– não me deixe, por favor –
amor, nunca vou te deixar sozinho
mesmo nos momentos mais obscuros e difíceis momentos
e te peço, por favor, você – nunca desista
não desista nem mesmo quando achar que de repente não vale mais à pena
“me faça amor, por favor, me faça morrer de rir”
e eu serei sua por todas essas vezes e vozes e acordes e letras,
músicas, poemas…
sem nenhuma cena, problema, roteiro mal escrito de cinema
sem grilos, sem planos, fotografias, enganos
sem amarras, algemas, pratos e copos quebrados
– sem cacos –
um corpo somente
– deitado –
em qualquer lugar
para você brincar
de montar, desmontar
com a inocência de alguém que brinca de “LEGO”
e deseja ser engenheiro, construtor, arquiteto
e com isso, lê jornais todos os dias e escolhe a profissão de jornalista
esse mesmo alguém que sonhador, na verdade é artista, alpinista, alquimista
e mistura bondade, força e saudade na mesma magia
– panela mágica –
e sem mágoa sorri com o coração aberto
e o sorriso em lua
e os olhos estrelas
e a língua alimento
não pense nunca que algo pode ou deve ser perda de tempo,
pois não é,
tudo é lindo e lido no simples lago do amor
onde dançam nossos pés
e para sempre
dançarão!