um respirar fundo, fôlego e (sobre)vida (XX)

 

(carta escrita e entregue  para Justo D’ Ávila, meu amor, antes da  viagem para Curitiba para passar o Natal)

 

não se preocupe. não vou esquecer do nosso amor; e sim, lembrar dele à cada movimento; momento

na grama verde e bem cortada do Parque Barigui,

no frio asséptico e triste do Shopping Cristal,

na cantoria regada à galeto e polenta em Santa Felicidade

e até na bebedeira inocente no Alto da XV

te cantarei um poema

e vou olhar a lua e uivar para você

que ouvirá meu grito

e uivará de volta

 

aonde quer que eu esteja, meu amor,

vou lembrar do nosso “vai-e-vem”

e suspirar baixinho sentindo seu cheiro, seu gosto, seu beijo

nosso desejo

vou fechar os olhos e mergulhar no seu azul, seu mar, meu par

sem você, sem norte, sem bússulo, sem leste, oeste, sem cor, sem tom, nuances, certezas…

 

longe; contigo sempre!

contigo sobre a cama (a nossa)

ou na beirada do sofá

brindarei o nosso amor

como se no copo

houvesse apenas o derradeiro gole

o gole da morte

e da vida que habita meu pobre, frágil e sensível coração

desde o dia em que nos conhecemos na circinstância mais esdrúxula e linda do mundo

quando não consegui mais tirar você do pensamento

quando fui invadida,

ou melhor,

atropelada pelo turbilhão de emoções- você

e perdi a paz

e fiquei em paz no mesmo segundo

 

eu desejo que de mãos dadas vivamos a vida

e sejamos a cada minuto surpreendidos um pelo outro

como num susto, um respirar mais brusco, uma mordida, um beliscão

 

desejo que em você, meu menino;

meu homem, meu grito;

minha força

nunca se apague a fagulha inicial e tudo que a cerca

– como as minhas portas –

todas abertas desde o primeiro:

– oi! tá podendo beber aqui?

 

esse mesmo “oi” que hoje fala: “cueca”, “Urca” e “pracinha”

esse “oi” que me olha, me molha e mexe o nariz (para baixo e dentro)

como se tivesse medo

um medo bobo, porém honesto de me perder

de se perder

como se fosse um pedido

não me deixe, por favor

 

amor, nunca vou te deixar sozinho

mesmo nos momentos mais obscuros e difíceis momentos

e te peço, por favor, você – nunca desista

não desista nem mesmo quando achar que de repente não vale mais à pena

“me faça amor, por favor, me faça morrer de rir”

e eu serei sua por todas essas vezes e vozes e acordes e letras,

músicas, poemas…

sem nenhuma cena, problema, roteiro mal escrito de cinema

sem grilos, sem planos, fotografias, enganos

sem amarras, algemas, pratos e copos quebrados

sem cacos

um corpo somente

– deitado –

em qualquer lugar

para você brincar

de montar, desmontar

com a inocência de alguém que brinca de “LEGO”

e deseja ser engenheiro, construtor, arquiteto

e com isso, lê jornais todos os dias e escolhe a profissão de jornalista

esse mesmo alguém que sonhador, na verdade é artista, alpinista, alquimista

e mistura bondade, força e saudade na mesma magia

–  panela mágica

e sem mágoa sorri com o coração aberto

e o sorriso em lua

e os olhos estrelas

e a língua alimento

 

não pense nunca que algo pode ou deve ser perda de tempo,

pois não é,

tudo é lindo e lido no simples lago do amor

onde dançam nossos pés

e para sempre

dançarão!

 

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