amor de cinema (I)

Da série: Ação!

ou

do que não é meu e me toca

voar como um anjo prateado

pular da ponte em construção

o susto,

o frio na barriga

um grito

e tantas lembranças

é uma cena doce

e a sensação

de estranhamento

as pessoas (idiotas) se reviram nas cadeiras

o que vieram fazer aqui estes idiotas?

voltem para suas casas,

suas novelas, seus programas baixo nível

sua falta de sensibilidade

e me deixem aqui quieta

vocês se impressionam com essas bundas

e barrigas de tanque, perfeitas

o tempo de vocês já passou

vocês com suas barrigas e suas mulheres

robô

suas noites de sexo mecânicas

uma vez a cada três meses

suas trepadas plásticas, assepticas

sem paixão

vejo seus olhos fechando quando

o ator ameaça virar para frente depois do banho

vocês têm medo de ver os pênis

moles

ou até a ereção dos atores

e aqueles gritinhos de histeria

quando há apenas

( a idéia)

de penetração

vocês não sabem o que vêem

voltem para suas casas

já que não sentem

nem pensam no outro

você não pensam

já, eu, me transporto

entro na tela

participo da história

sofro, sinto

desejo que eles fiquem juntos

e que Kafka pare de se drogar

não, Daniel não pode ir para a Austrália

sim! tomem LSD juntos mais uma vez

foi tão divertido ali na praia

sim, Kafka, aprenda a ler e escrever

você vai superar as suas dificuldades

da próxima vez escreva “Daniel” ao invés de “Denial”

saco! O que essa mulher está fazendo aí? que chinesa feia!

ao fundo a música clássica

para me revirar mais as tripas

e essa história de amor

meus dedos estão cruzados

quero um final feliz

e esse pano de fundo

e toda essa luta

essa luta…

e esse amor

no fundo, no fundo

sinto saudade do meu.

* escrito depois de ver Anfetamina ( no Festival do Rio)

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=v4KxZuzTx3o&feature=player_embedded