Sobre acaso e cachos de uva (I)

há muitas ilhas e olhos neste apartamento.

o teto me achata, as luzes balançam e me jogam de um lado para o outro
tal qual o alto mar faz com o transatlântico em dias frios
-chacoalha-
balança – navega,
bate. joga.
de um lado
para o outro.
lá e cá –
as lâmpadas sacolejam
as copas dos abajures…
há trilhas, caminhos, montanhas
nesse apartamento.
olhos também.
há muitos olhos neste apartamento.
muito você, eu e nossos óculos.
no meio da sala eu escalo, navego, corro.
faço cooper.
eu faço cooper nesse apartamento.
há muitos espaços vazios.
há um vazio repleto de quinquilharias;
nesse apartamento.
há muitos móveis por aqui e mares, montanhas e ilhas.
muito de nós.
pouco, pouquíssimo de mim.
quase nada de você.
e muito de nós.
há escadas rolantes e cinzas de cigarro nesse apartamento
e um gerador de energia
embaixo da cama.
os lençóis estão limpos;
a cabeceira vazia.
muito de nós por aqui
e nada de mim –
nem de você.
apenas vestígios de cacos e copos quebrados pelo chão
-nenhum chinelo aqui por perto-
cacos e cacos. giletes pelo chão e muita dor em mim
e
em você.
há uma vontade enorme de acertar dessa vez o estilo de decoração.
nem indiana, naif e nem elaborada demais.
vontade de acertar na decoração desta vez.
o apartamento está vazio, mas cheio
cheio de mim
– e-
de você.
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